quinta-feira, 29 de julho de 2010

A perseguição

A menina saiu mais cedo da escola. Não havia razões para voltar para casa, não tinha ninguém lá esperando. Ela só queria uma coisa: que ele a visse. Ela não queria esperá-lo, não queria olhá-lo, não queria falar com ele: só queria que ele a visse. No caminho, era tudo o que ela pensava. Passava por pessoas, ruas, lojas; a cidade se oferecia para ela. E ela queria que ele a visse.

Percorreu o centro, passou pelo viaduto, atravessou em frente a igreja, sentou-se. Quanto tempo faltava? Ela deveria esperar, para poder fazer o mesmo caminho que ele faria alguns passos depois. Assim, ele a veria. Assim, dentro do pensamento dela ele ficaria sonhando com a garota que estava andando na frente dele.

Mas ela estava ansiosa demais para esperar pelo momento certo. Então, levantou-se e resolveu andar vagarosamente pelas ruas já tão conhecidas para acelerar o tempo. Não tinha problema passar várias vezes pelo mesmo lugar, voltar pelo mesmo quarteirão, se era para ser vista por ele. Ah, ele iria ficar pensando nela, que a tinha visto, que ela era realmente o amor da sua vida! As casas, com suas fachadas já tão conhecidas, uma após a outra, ansiavam com ela pelo momento tão esperado. A hora estava chegando.

De repente, ela se deu conta de que talvez fosse aquela a hora. Já tinha se passado uma hora desde que ela começou a andar! Ela então se apressou para terminar a volta no quarteirão e chegou finalmente na rua por onde ele passaria, para que ela pudesse andar na frente dele. Andando devagar, ela chegou ao fim da rua e olhou para trás. Não, ele não estava lá. Talvez fosse cedo demais. E se ele fizesse outro caminho?

Bom, não tinha jeito, ela tinha que arriscar. Entrou de novo por uma das ruas pela qual ela já tinha passado várias vezes, e bem rápido, deu a volta no quarteirão. As casas, que a viam passar mais uma vez, não compreendiam a angústia daquela menina que outra vez passava por ali.

Chegando mais uma vez na rua pela qual ele passaria, foi andando até o fim. Ele estaria ali, atrás dela? E se fizesse outro caminho? E se ele também tivesse saído mais cedo?

Olhou para trás, de novo. E ele não estava lá. Olhou no relógio. Talvez ele tivesse ficado conversando com alguém, e por isso ainda não tinha passado.

Mais uma vez, virou a rua bem rápido para dar outra volta no quarteirão. Não era possível. Sua aflição se revelava em seus passos, que nunca quiseram ser tão rápidos. Praticamente sem enxergar nada, ela alcançou a rua por onde ele ia, não, ele tinha que passar! Nenhum sinal ainda.

E ela foi andando. Com a esperança de que ele viesse atrás dela. Com a esperança de que a sua imagem ficaria presa em seus olhos verdes. Com a esperança de que essa imagem entrasse através deles e fosse parar na sua mente e ficasse lá a tarde toda, a vida toda. Com a esperança que ele a amasse.

Chegou ao fim. Olhou para trás. Ele não estava lá. Olhou no relógio. Era tarde demais. Continuou andando, de cabeça baixa, para chegar mais tarde em casa, sem que ninguém a visse.